
Ninguém havia ali, estendendo-nos a mão do desejo ou da mentira, nada importa, para nos fazer saltar a dança das chamas (…) Nesta altura de cinza, recordamos que somos sozinhos o despojo da festa, um copo vazio e o fição arrefecido. Respiramos cinzas e engasgamos de sede (…).
Tento mexer-me e nenhum grão de cinza se levanta, nenhum grão do meu corpo. Não há corpo. Desapareci por imolação. (…)
A nossa sombra é mínima. Ardemos por dentro, em silêncio, diante de outras tochas caladas. (…)
Por que te conto tudo isto? (…) Não tenho nada para dizer-te, nem sequer que a minha última brasa rejeita o alívio de uma gota de água, nada, nada se diz ao rio que foge (…)
Apenas queria escrever-te. Com dedos de carvão que se desfazem em cada letra que tento despejar no papel.”
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