
Se juntasse todas as recordações da minha infância conseguiria escrever, no máximo, meia dúzia de páginas. Há personagens literários com mais memória que eu. Seguro-me, todavia, a essas escassas lembranças, com a firmeza de um náufrago a uma tábua estreita, porque nos dias de chuva ou nas tardes mortas (…) são elas que me explicam e me sustentam.
(…) Fora do tempo não tenho tanto medo. Estendida numa cama alheia, numa cápsula branca a flutuar no espaço, posso fingir que tenho o comando dos dias. Acelero. Abrando. Volto atrás para estudar melhor um pormenor. Apago uma cena que não gostei.
Fecho os olhos e penso: preciso mudar de perfuma. Preciso comprar um vestido para o Verão.
Penso: amanhã é o primeiro dia do resto da minha vida.”
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