22 janeiro 2007

Abraço

E de novo… devaneios de loucura contida, encontrada onde o espaço perde a forma e o tempo cristaliza…
E, em rasgos de uma monotonia tão familiar, surge a união entre a dor e a vergonha nesse abraço que me envolve e me entranha neste abismo vazio onde me perco… e mais um abraço sinistro… mais um abraço que termina naquele beijo rasante que furtivamente me engole o ser numa inércia mortal…
Porque tudo está bem até à chegada do espasmo dilacerante que me mutila e empurra para a escuridão na qual agora me encontro…porque tudo são sombras disformes… porque tudo é abandono encontrado…porque tudo são trevas incontornáveis. Preciso estar só, preciso de mim!... preciso de mim sem me encontrar… onde estou? Que titã força divina consegue tal mutilação existencial?...
Sinto-me presa… ironicamente acorrentada num cambaleante corpo que não é meu, numa irrecusável vontade que não me pertence, numa estranha cidade onde não sou, num disforme agir que não comando, num lúgreme pensamento que não controlo… porque sinto que já nada me pertence… mesmo a vida que, teimosamente, insisto em viver… também essa não é minha!
E queria gritar mas não tenho voz, queria chorar mas não tenho lágrimas, queria fugir mas não tenho força… queria desistir mas não tenho coragem!
Mais um dia, mais uma noite, mais uma hora, mais um minuto, mais um segundo…mais, e mais, e mais…
Daqui a pouco o cansaço acabará por vencer a dor, os olhos irão ceder cegos à escuridão, o corpo tornar-se-á latente… e amanhã, quem sabe… talvez a bruma se dissipe e eu acorde novamente num mundo encantado de sorrisos espontâneos… ou quem sabe as trevas ganhem força e me envolvam para sempre na sua total escuridão.
Perto da loucura? Talvez…
Porque nem todas as histórias têm um final feliz.

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