08 novembro 2008

Think about it

"(...) Franqueado o portão principal, corta-se-nos a respiração, não porque a morte em pessoa nos tenha vindo receber, mas porque damos de caras com um imenso jardim, de enormes avenidas, ladeadas de árvores centenárias onde pontua o verde, numa paisagem que nos faz esqueçer que estamos em casa da dita cuja. (...) E ali ficamos à conversa mais um bocadinho, até que outros mortos nos chamam a retomar o passeio. E é mais adiante que finalmente sentimos a presença daquela que até agora, apesar de estarmos nos seus domínios, tinhamos resistido a enfrentar. A "secção" onde estão enterrados os que não tiveram tempo de viver. (...) As campas rasas, uma placa de madeira, um nome, às vezes uma idade, curta, e quase sempre um objecto, que se presume fosse o mais querido da criança ou do jovem ali enterrado, um peluche, um skate, uma camisola, que se recusam a aceitar aquela morte. Aqui o silêncio é sepulcral e a vontade é de chorar."

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- Catarina Pires -
(Notícias Magazine)

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