07 novembro 2005

Daquela crónica...Será?

(E para quem tem paciência...)

“E um dia (…) recebemos na nuca um beijo lento, quase soprado (…) que acordamos com um arrepio doce, doce demais, doce de suspeito, doce de magoar.
(…) Antes de podermos (…) virar o nosso corpo na cama, esses lábios sorrindo em sonhos, dizem-nos:
- Poderia não estar aqui (…)
- É melhor não continuar aqui
E então sentimos uma queimadura na nuca (…) a espada apontada no sítio onde caiu o beijo, enquanto pensamos: “melhor para quem?” A voz – percebemos – fala sozinha, autónoma do seu corpo, em desacordo com as mãos que ainda nos cingem pelo ventre, como se aquela manhã não tivesse nascido mas sim nós expulsos inesperadamente para fora do dia (…).
- É melhor não continuar aqui (…)
O amor como um passeio descalço entre o sal, o açúcar e o sono, depois nódoas, depois um coice, já não há nada a fazer (…)
Melhor para quem? Regressamos ao quarto, sentamo-nos no chão (…) começa a cair o cheiro denso de uma paixão que não acabou mas que ficou sem corpo e que, na sua falta de corpo, na sua ausência definitiva, é urgente começar a matar em nós.
(…) na nódoa meridiana do colchão – o nosso orgulho, a nossa malícia, o nosso excesso – se delimitou, afinal, a diferença entre um sonho e um pesadelo.
(…) é assim que amamos (…) até que uma certa manhã de Domingo (…) o princípio do fim acontece porque o amor, a confiança, a partilha, são mais profundas que a felicidade (…), que depois de ter muito é impossível ter menos, que depois do tudo não se pode fingir o pouco, que investimos no tempo e ele investe contra nós, que, portanto…
...é melhor assim (…) .“

Nenhum comentário: