20 novembro 2005

Onde?

“(…) O tempo corre estável, entre nós, nesse pequeno fio de regato entre querer-e-não, um fio para longe, e, enquanto corre, contemplo esse longe sem melancolia porque, aparentemente, bastaria um salto (…) para estar na outra margem. (…) podemos dar-nos as mãos por cima da água sem nenhum de nós passar para o outro lado.
Talvez tenha sido isso que sempre fizemos, afinal. Tocámo-nos sem mover os pés.
Ou talvez não seja assim tão simples, (…) como são todas as vozes que nós julgamos falarem connosco a partir de um tempo que já foi vivido. (…)
Em que sítio ando a esconder-me? (…)
Assusta-me pôr o filme em andamento e regressar, por um instante agudo, a um tempo em que eu era o subterrâneo, esbarrando constantemente com impossibilidades, com sonhos interrompidos a meio antes mesmo de serem sonhados, porque era esse o desafio que eu procurava. (…)
Talvez o regato corra, sim, num fio ténue – mais mais e mais para trás, para ser engolido pela sua nascente.”

Nenhum comentário: